(Depois de 6 anos, não sabia se continuava aqui ou se fazia um blogue novo. Decidi que prefiro manter todo o meu passado e continuar aqui.)
Não sou cheiinha, gorduchinha, gordinha, forte ou rechonchuda: sou GORDA.
Gorda é uma palavra da língua portuguesa e é um adjectivo: tal como magra, alta, baixa, morena ou inteligente. Assim, não deverá haver qualquer razão para as pessoas terem medo de a usar, ou utilizarem-na apenas quando pretendem ofender alguém. Gorda não é uma palavra má, não é um conceito mau, é só uma palavra que pode descrever uma pessoa, uma almofada ou uma conta bancária (fosse a minha mais gorda e a colecção de roupa da Beth Ditto não me tinha escapado!).
Sou gorda e, apesar de, por si só, isso não definir o meu valor, o facto de ser gorda desde que nasci (o que indica que provavelmente sê-lo-ei toda a vida de acordo com estes investigadores - http://newsroom.ucla.edu/releases/Dieting-Does-Not-Work-UCLA-Researchers-7832 ) ajudou a definir a pessoa na qual eu me tornei.
Apesar de me ter tornado numa pessoa mais insegura e menos confiante, creio que também me tornou numa pessoa mais compreensiva, aberta, ponderada a fazer julgamentos, simpática... Acredito que quando crescemos a sentir que o nosso exterior tem menos valor, investimos ainda mais no interior. Infelizmente, a sociedade bombardeia-nos diariamente com uma série de preconceitos sobre o que deve ser valorizado, o que é bonito ou feio, o que é bom ou mau, o que é normal ou não. Crescer numa sociedade com padrões de beleza irreais e tão redutores é mesmo uma grande m#rda!!
Eu sei como te sentes quando te dizem, mesmo com a melhor das intenções "a tua cara é tão linda, se fosses mais magrinha...", "ahh, tens uma carinha tão bonita!!" (então e o resto?). Por isso, imagino como seja quando te dizem que és magra demais, baixa demais, que devias gostar de pessoas do sexo oposto, que devias tirar essas ideias da cabeça e animar-te, que devias sair mais, que devias sair menos, que és muito atiradiça, que estavas mesmo a pedi-las. São tudo coisas que nos magoam e que fazem que achemos que valemos menos que os outros.
Dizer a alguém que ela está mais magra não é um elogio, tal como dizer a uma pessoa que ela está mais gorda também não deverá ser uma ofensa.
Sou gorda e não tenho que me justificar. Não tenho que te dizer se faço, ou não, exercício com regularidade, nem tenho que te dizer o que como. Porque, na verdade, ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém consegue olhar para o meu corpo gordo e dizer se sou, ou não, saudável. O meu corpo não diz nada da minha tensão arterial, dos meus níveis de colesterol, do estado do meu coração, se tenho diabetes (ainda não encontrei nenhum artigo científico que estabeleça uma relação de causalidade entre a obesidade e a diabetes tipo 2). E, principalmente, não tenho que me justificar porque não fiz nada de mal ou de errado. O meu único erro foi, e é, não me amar ainda mais: mas pratico todos os dias!!
Porque ser gorda não é pecado e nem é, tampouco, uma coisa má.
É o meu corpo e cada dia gosto mais dele. As minhas pernas, gordas e com celulite, são maravilhosas e são perfeitas: todos os dias me levam onde preciso - até já me levaram a Nova Iorque, a Londres e a Paris. A minha barriga grande serve sempre de apoio para ler nos transportes públicos e já apoiou tantos mundos e tantas estórias encerradas em dezenas de livros. O meu peito já acolheu tantas lágrimas num abraço... Como é que eu posso não gostar de um corpo que tem sido tão bom para mim?!
Tenho roupa de imensos tamanhos - M, L, XL, XXL, XXXL, 50, 46, 52, 48, 54 - mas a verdade é que não sou definida por uma letra e, muito menos, por 2 números!!
E não, já não acho nada que a verdadeira beleza é a interior. Porque somos todos bonitos por dentro e por fora, à nossa maneira. Porque não é porque a sociedade se lembrou de dizer que bonito é ser magro, que o meu corpo gordo (e quem sabe o teu?!) deixa de ser menos bonito. Não somos bonitos às metades nem às partes: somos bonitos por inteiro. Eu não sou bonita apesar de ser gorda. Eu sou bonita, ponto final. Por acaso, também sou gorda. Por acaso, sou bonita e gorda.
Há muito para dizer e muito caminho para ser percorrido na viagem do amor-próprio. Espero documentá-lo aqui.
Escrevo todas estas linhas hoje para me ajudar a acreditar todos os dias que sou gorda e maravilhosa, mas também para dizer a todas as pessoas que podem ser gordas e maravilhosas. Que, aliás, até podem ser ainda mais maravilhosas por serem gordas. Porque a chave para se ser maravilhoso não é ser-se gordo ou magro: é ter uma quantidade enorme de amor-próprio!
Quero dizer a todos os pais e a todos os filhos que se pode ser gordo e maravilhoso e bem sucedido e feliz. E quero pedir a todos os pais que, se por acaso, lerem as minhas palavras, ajudem os vossos filhos e amarem-se, independentemente do que a sociedade lhes diga.
E quero dizer, também, que a frase "as mulheres reais têm curvas" vai contra tudo o que eu acredito. Porque para uma mulher ser real, basta ser mulher. E que frases como "os homens preferem as gordinhas" são ridículas: em primeiro lugar porque nenhuma mulher deve julgar o seu valor com base naquilo que um homem pode pensar dela, e depois porque existem pessoas com todos os gostos e a beleza é extremamente subjectiva.
4 comentários:
Nãos sejas ignorante.
http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/vida_e_saude/v2n2a1.pdf
Cara Mariana,
És muito engraçada, mas deves ter faltado à aula de estatística em que aprenderam a diferença entre correlação e causalidade!! É que são coisas diferentes!! Espero que consigas ler e percebas a diferença!! http://www.ebah.pt/content/ABAAAATx0AI/correlacao-regressao-linear
Se tiveres alguma dúvida, apita!!
Quando não se tem razão, discute-se o Português. Espero que ser gorda te traga muitos benefícios na vida.
Mariana,
Existem vários estudos que mostram um correlação entre as pessoas gordas e a diabetes tipo 2, mas eu ainda não encontrei nenhum, à semelhança daquele que mostraste, que prove que a obesidade cause diabetes tipo 2: é essa a diferença. Não é português, são os testes estatísticos que se utilizam nos artigos científicos.
Eu também espero que ser gorda me traga muitos benefícios, especialmente espero continuar a ser boa pessoa e não julgar os outros. Espero continuar sempre a respeitar o outro e a ajudá-lo.
Por me parecer que este assunto é importante para ti, estou disponível para te esclarecer alguma dúvida que te possa surgir.
Enviar um comentário